Se tentarmos definir a palavra “geração” na história da cultura de um país, deparamos antes de mais com uma dificuldade de carácter prático: pertencem a uma geração todos os que nascem e vivem numa mesma época, dentro de um período breve (dez ou vinte anos), marcado por tendências comuns importantes, ou pertencem a ela apenas alguns desses indivíduos que se destacam do conjunto e a representam verdadeiramente? Parece justo aplicar o termo à criação comum de ideias e de obras num determinado período decisivo da cultura e da literatura de um país. Todavia, essa criação far-se-á (e permanecerá para o futuro) inevitavelmente a partir de um número restrito de escritores e de pensadores que serão os verdadeiros iniciadores de uma geração.
Pode dizer-se que à chamada Geração de 70 pertencem aqueles escritores da segunda metade do século XIX que a “geraram” no plano das ideias, estéticas ou outras, e não aqueles que a ela aderiram, prolongando-a historicamente. São eles: Antero de Quental (1842-1891), Eça de Queirós (1845-1900), Oliveira Martins (1845-1894) e Ramalho Ortigão (1836-1915). Secundariamente, a ela pertencerão: Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Alberto Sampaio ou ainda Adolfo Coelho e Augusto Soromenho. Ao nível histórico, a Geração de 70 situa-se no período que vai até à proclamação da República, em 1910.
A Geração de 70 iria começar uma polémica que iria ficar na história literária, que ficou conhecida como a Questão Coimbrã, que também é conhecida como a questão do Bom Senso e do Bom Gosto, e a polémica dava-se em torno do confronto literário com os ultras românticos.
A capacidade crítica da Geração de 70 atinge o seu ponto culminante com a realização das chamadas Conferências do Casino, de Maio a Junho de 1871. Nelas, Antero expõe as suas ideias de socialismo utópico, Eça critica o romantismo decadente e defende as teorias de Taine (para o qual a arte está sobretudo dependente de factores rácicos, climáticos e sociais) e o realismo à Zola e à Flaubert na arte e no romance. Surge, também em 1871, As Farpas, uma publicação mensal redigida inicialmente por Ramalho e por Eça. Por outro lado, ainda como geração eminentemente crítica, a Geração de 70 ataca a monarquia decadente, preparando a revolução republicana de 1910.
Todavia, apesar de todo o seu espírito crítico, a Geração de 70, na sua fase final, desiste de uma acção doutrinária e de uma intervenção histórica concreta, imediata, transformando-se no Grupo dos Vencidos da Vida. Antero suicida-se, em 1891, marcando tragicamente toda a Geração de 70.