Almeida Garrett
João Baptista da Silva Leitão, (mais tarde Almeida Garrett), nasceu no Porto, em 1799.
Aos 10 anos parte com a família para os Açores, onde inicia a sua formação literária sob a tutela do tio Frei Alexandre da Sagrada família.
Em 1816 ingressa na Universidade de Coimbra, para seguir estudos das Leis. A sua vivência académica seria determinante na sua iniciação política e filosófica.Mais tarde, em 1921, surge o seu primeiro livro, O Retrato de Vénus, um poema polémico que resultou num processo em tribunal.
Entre 1823 a 1826, Garrett foi obrigado a deixar o país, situação que se viria a repetir entre 1828 a 1831. No entanto, no tempo de exílio, o escritor encontra uma oportunidade intelectualmente vantajosa. A permanecia em França e Inglaterra permitiu-lhe conhecer o movimento cultural europeu, na sua dimensão artística e ideológica. Daí apareceram os primeiros textos românticos portugueses, Camões e Dona Branca.
Regressa a Portugal em 1832 e foi chamado a participar nas reformas legislativas do novo regime, mas pouco depois afastou-se do poder, sob pretexto de missões diplomáticas no estrangeiro.
Durante os anos 40, Garrett destaca-se na oposição. Mas descontente com a situação da revolução, afasta-se da vida pública em 1847. Desse período resultaram algumas obras como, por exemplo, O Alfageme de Santarém e Frei Luís de Sousa.
Em 1851 regressa ao parlamento e é feito visconde.
Em 1852 é nomeado Par do Reino.
Morreu a 9 de Dezembro de 1854, depois de uma vida sentimental romanticamente atribulada.
A Obra (sinopse)
A poesia lírica e narrativa dominaria a primeira fase da sua carreira, ainda oscilante entre o neoclassicismo convencional e a nova corrente romântica, de inspiração nacionalista. Depois do controverso Retrato de Vénus (1821), publica os poemas Camões e Dona Branca.
A par da produção literária, o jornalismo ocupa neste período um lugar importante na sua escrita. Garrett apercebeu-se do imenso poder da Imprensa nas sociedades modernas e, em 1822, lança um pequeno jornal mundano – “O Toucador”, que era destinado ás senhoras.
Na década de 40, surgem as maiores obras do autor, abrangendo a versatilidade, a lírica, a narrativa e o drama.
Em 1844, publica Frei Luís de Sousa, que é reconhecidamente a que melhor realiza o seu ideal de sobriedade artística. Combina o “pathos” da tragédia clássica e a actualidade vivencial do drama familiar.
Apesar de escassa, a obra romanesca de Garrett tem um rasgo inconfundível de originalidade. Viagens na Minha Terra (1843/1846) pode considerar-se a primeira narrativa moderna portuguesa, que também é uma obra-prima da ironia intelectual.
Frei Luís de Sousa
Caracterização de Telmo Pais:
O velho escudeiro, confidente e privilegiado, ligado sempre à nobreza, define-se pela lealdade e fidelidade, sendo o elo de ligação das famílias (Acto I, Cena II – Madalena: “Dúvida de fiel servidor, esperança de leal amigo.”).
Não quer magoar nem pretende a desgraça da família de D. Madalena e Manuel, mas acredita que D. João de Portugal há-de regressar (Acto I, Cena III – Maria: “…, tirando aqui o meu bom Telmo, ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em que escapasse o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião.”).
Telmo tem duas personalidades, uma convencional e outra autêntica. A personalidade convencional é a imagem com que Telmo se construiu para os outros, através dos tempos, onde se caracteriza por ser um escudeiro fiel. A personalidade autêntica é a sua parte secreta, aquela que ele próprio não conhecia, e que veio à superfície num momento trágico da revelação em que Telmo teve que decidir entre a fidelidade a D. João de Portugal ou a fidelidade a Maria.
Vive assim um drama inconciliável entre o passado a que quer ser fiel e o presente marcado pelo seu amor a Maria.
É, assim, chama viva do passado, pois alimenta os terrores de D. Madalena.
Simbologia e elementos simbólicos:
A numerologia parece ter sido escolhida intencionalmente.
Madalena casou 7 anos depois de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir; há 14 anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21=3x7). O número 7 é um número primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as células humanas renovam-se de sete em sete anos). Indica, assim, o fim de um ciclo periódico.
O número 3 é o número da criação e representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O número 21 corresponde a 3x7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14 anos foram o tempo de vida com Manuel de Sousa (2x7); 21 anos completa a tríade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo dos 3 ciclos periódicos.
O número 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade, enquanto que o 3 indica perfeição. Assim, o 21 significa fatalidade perfeita.
Na crença popular, o 13 indica azar, e em numerologia é gerado pelo 1+3=4, um número par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus momentos de vida.
Também como elemento simbólico encontra-se o tempo dos principais momentos da acção, que sugerem o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto III); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.
Alguns exemplos de Simbologia:
Acto I, Cena II
Madalena: “…, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berbéria, …”, “… a que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e um anos?”.
Telmo: “Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora, está uma senhora…. Uma senhora, aquela… pobre menina!”.
Acto II, Cena V
Madalena: “Sexta-feira! Ai que é sexta-feira!”.
Acto II, Cena X
Madalena: “É um dia fatal para mim: faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.”.
Acto I, Cena II
Madalena: “…, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berbéria, …”, “… a que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e um anos?”.
Telmo: “Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora, está uma senhora…. Uma senhora, aquela… pobre menina!”.
Acto II, Cena V
Madalena: “Sexta-feira! Ai que é sexta-feira!”.
Acto II, Cena X
Madalena: “É um dia fatal para mim: faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.”.