
Em Cesário Verde, o campo, ou melhor, a terra, apresenta-se rica e fértil. Afastado da terra da sua infância, como recorda no poema Em Petiz, e enfraquecido pela cidade doente, o poeta reencontra a energia perdida quando volta para o campo. Por isso, também, como refere em Nós, desde as epidemias que passaram em Lisboa, a sua família passou a encontrar no espaço rústico o retempero das suas forças "desde o calor de maio aos frios de Novembro".
É dentro desta concepção de uma terra que revitaliza que podemos encontrar o mito de Anteu, a que se refere Andrée Crabbé Rocha, num ensaio publicado em 1986, sobre o mito na poesia de Cesário Verde.
O mito de Anteu permite caracterizar o novo vigor que se manifesta quando há um reencontro com a origem, com a mãe-terra. É assim que se pode falar deste mito em Cesário Verde na medida em que o contacto com o campo parece reanimá-lo, dando-lhe forças, energias, saúde. O mito de Anteu surge em Cesário para traduzir o esgotamento gerado pelo afastamento da terra, do espaço positivo do campo. Daí, o seu encantamento com o cabaz da pequena vendedeira que lhe traz o campo à cidade, na vitalidade e no colorido saudável dos produtos que lhe permitem recompor um corpo humano, ou seja, que possibilitam renovar as energias.
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