segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Origem dos heterónimos de Fernando Pessoa


"A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existem em mim (...), a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação"

Ricardo Reis: "Aí por 1912, salvo erro, veio-me á ideia escrever um poema de índole paga. Esbocei umas coisas em verso irregular e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, uma vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo.(Tinha nascido, sem que eu soubesse, Ricardo Reis)". Ricardo Reis nasceu em 1887 no Porto, é medico e está presentemente no Brasil. É mais baixo que Fernando Pessoa (1,73 cm) mais forte mas seco. Ricardo Reis foi educado num colégio de jesuítas, é, como disse, medico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia e um semi-helenista por educação própria. Fernando Pessoa escrevia como Ricardo Reis depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode.

Alberto Caeiro: "Foi em 8 de Março de 1914 (...), escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um titulo, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre". Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915, nasceu em Lisboa mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, apenas instrução primária . Tinha estatura media e, embora realmente frágil (morreu de tuberculose), não parecia tão frágil como era, o seu cabelo era louro sem cor e tinha olhos azuis. Morreram-lhe cedo os pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa com a sua tia velha, vivendo de uns pequenos rendimentos. Fernando Pessoa escrevia como Alberto Caeiro apenas quando existia aquela pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever.

Álvaro de Campos: "E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo individuo. Num jacto, e à maquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos, o mais histericamente histérico em mim". Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 à 1.30 da tarde. É engenheiro naval (por Glasgow) mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. É alto (1,75cm de altura), magro e um pouco tendente a curvar-se; tinha o cabelo liso entre o branco e moreno, tipo vagamente de judeu português e usava um monóculo. Teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. "Numas ferias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre". Álvaro de Campos emergia quando Fernando Pessoa sentia um súbito impulso para escrever sobre qualquer coisa (o que lhe vinha á cabeça).

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