O poema começa com uma metáfora (O poeta é um fingidor), que ocupa um lugar de destaque no poema. Caracteriza-se pelo fingimento e finge tão bem que consegue fingir a dor que sente na realidade.
Coloca-nos assim perante dois tipos distintos de dor: a dor real, sentida e a dor fingida, imaginária. A dor fingida é comunicada através da linguagem verbal.
Uma perífrase inicia a segunda estrofe: "os que o lêem" - leitores.
A poesia é apresentada como expressão da profundidade negativa da alma do poeta: a dor. A dor sentida pelo poeta (real) serve de motivo à dor fingida e é expressa pela escrita pelo poeta.

Na terceira parte do poema (terceira estrofe), como a própria expressão "E assim" indica, constitui uma espécie de conclusão. O coração (símbolo da sensibilidade) é um "comboio de corda" sempre a girar nas "calhas de roda" (que o destino fatalmente traçou) para "entreter a razão".
Nega que finge, o que faz é racionalizar/intelectualizar os sentimentos/emoções (sente com a imaginação) não usa o coração (depreende-se que para sentir).
O poeta procura constantemente nunca se satisfazendo com o que procura, mas vendo sempre naquilo com que se depara um terraço que esconde mais.
Relaciona essa procura com o facto de o poeta se querer libertar do imediato, das sensações, pois ao escrever distancia-se delas.
Usa a ironia ao rematar o texto remetendo o sentimento para a pessoa do leitor.
Concluindo, estes dois poemas pretendem transmitir uma fragilidade estrutural, todavia, escondem uma densidade de conceitos. O Ortónimo conclui que o sujeito poético é um fingidor: "finge tão completamente / que chega a pensar se é dor / a dor que deveras sente/", bem como um racionalizador de sentimentos. O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na ortonímia, o sujeito poético brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética. O poema resulta, então, de algo intelectualizado e pensado.
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