domingo, 13 de novembro de 2011

Alberto Caeiro - A poesia das sensações

"O meu olhar é nítido como um girassol"

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar...


No primeiro verso deste poema o sujeito poético apresenta uma comparação com um girassol. Esta comparação é feita para mostrar a nitidez do seu olhar, pois esta planta tem a particularidade de seguir continuamente a luz do sol. Para o poeta a sensação visual é-lhe suficiente na sua relação com o mundo, rejeitando pensamentos.

O sujeito poético neste poema afirma que basta sentir a realidade, não precisa de a questionar, não precisa de saber porque é que ela existe.

Alberto Caeiro é um poeta que consegue submeter o pensamento ao sentir, abolir o vício de pensar e viver apenas pelas sensações. Alberto Caeiro consegue alcançar facilmente aquilo que para Fernando Pessoa é um desejo impossível.

Sem comentários:

Enviar um comentário