domingo, 13 de maio de 2012

Convento de Mafra

Obra central do reinado de D. João V, o Palácio-Convento de Mafra é um projecto colossal do Barroco português setecentista. Os seus números são impressionantes, como o testemunha a sua imensa área de aproximadamente 40 000 m2, a sua fachada nobre com 232 metros, os seus 29 pátios e 880 salas e quartos, as suas 4500 portas e janelas ou ainda as 217 toneladas que pesam os 110 sinos do seu famoso carrilhão.



A fundação deste mosteiro de frades arrábidos deveu-se a uma promessa feita por D. João V, caso a rainha fosse bem sucedida na concepção de um filho que tardava. Esta promessa cumpriu-se em 1711, ano em que nasceu a princesa Maria Bárbara, a primogénita da descendência do Magnânimo. O projecto inicial estava dimensionado para acolher treze frades arrábidos, mas no final da construção albergou mais de 300. Com efeito, o número de frades e a dimensão do empreendimento sofreram um grande incremento.

No entanto, o projecto de Mafra só se iniciou a 17 de Novembro de 1717, realizando-se a sua sagração em 1730. As obras prosseguiram até 1737, altura em que o convento mafrense se encontrava praticamente concluído. Acrescentos posteriores vieram enriquecê-lo com obras de arte e a criação de outras dependências, como foi o caso da notável biblioteca conventual. Os planos de Mafra são entregues a João Frederico Ludovice, arquiteto-ourives alemão e que se formou no atelier romano de Carlo Fontana. Mafra ordena-se em torno de dois rectângulos articulados: o principal integra-se na vila e compreende a igreja, o palácio, dois claustros, o refeitório e outras dependências. O secundário está virado para a Tapada e articula as celas conventuais, as oficinas e a Casa da Livraria.

Para cada um dos lados da igreja estendem-se os corpos rectangulares e tripartidos do palácio, terminando nos ângulos por dois torreões de cobertura bolbosa, inspirados na antiga Casa da Índia do Terreiro do Paço lisboeta, destruída no terramoto de 1755. 
No topo da entrada situa-se a galeria real, local onde a família real assistia ao ofício divino e onde se situam as três janelas da Sala da Bênção.

O cenóbio possui diversas dependências que integram o museu do Palácio Nacional de Mafra, enquanto outras foram reconvertidas para acolherem a Escola Prática de Infantaria. Nestas áreas destacam-se algumas dependências pela sua qualidade artística.
Na ala sul, a Casa do Capítulo, verdadeira jóia da arquitectura barroca, é uma sala elíptica, de cantaria branca, azul e vermelha, e teto apainelado. Curiosa e surpreendente é toda a área conventual, memória da vivência monástica da comunidade dos ascetas frades arrábidos.



Entre as inúmeras dependências, o realce vai para a Casa da Livraria, obra de excepcional qualidade executada por Manuel Caetano de Sousa entre 1771 e 1794. Equilíbrio, monumentalidade e clareza são alguns dos atributos desta imensa biblioteca rocaille, reunindo nos seus dois andares de estantes alguns dos mais notáveis livros impressos - fundo bibliográfico que conta com cerca de 40 000 exemplares.

sábado, 12 de maio de 2012

Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Paralelismo Histórico

Paralelismo Histórico - Metafórico 

Tempo da História (século XIX – 1817):

- Agitação social que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas;revolta contra a presença da Corte no Brasil e influência do exército britânico;
- regime absolutista e tirânico;
- Classes sociais fortemente hierarquizadas;
- Classes dominantes com medo de perder privilégios;
- Povo oprimido e resignado;
- A “miséria, o medo e a ignorância”;
- Obscurantismo, mas “felizmente há luar”;
- Luta contra a opressão do regime absolutista;
- Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia a opressão e a miséria;
- Perseguições dos agentes de Beresford;
- As denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmente que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam;
- Censura;
- Severa repressão dos conspiradores;
- Processos sumários e pena de morte;
- Execução do General Gomes Freire;

Tempo da escrita (século XX – 1961):

- Agitação social dos anos 60 – conspirações internas; principal irrupção da guerra colonial;
- Regime ditatorial de Salazar;
- Maior desigualdade entre abastados e pobres;
- Classes exploradas, com reforço do seu poder;
- Povo reprimido e explorado;
- Miséria, medo e analfabetismo;
- Obscurantismo, mas crença nas mudanças;
- Luta contra o regime totalitário e ditatorial;
- Agitação social e política com militares antifascistas a protestarem;
- Perseguições da PIDE;
- Denúncias dos chamados; “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar;
- Censura à imprensa;
- Prisão e duras medidas de repressão e de tortura;
- Condenação em processos sem provas;


Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Simbologia

Simbologia presente na obra:

- Saia verde: comprada em Paris, no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. “Alegria no reencontro”; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança;

- Título: duas vezes mencionado inserido nas falas das personagens (por D. Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo de revolte);

- Luz: vida, saúde e felicidade;

- Noite: mal, castigo, morte;

- Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periocidade, renovação;

- Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade;

- Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar;

- Titulo: D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo; representa as trevas e o obscurantismo (Página 131);

- Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania; representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade (Página 140);

- Moeda de 5 réis: símbolo de desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus;

- Tambores: símbolos da repressão.


A Didascália:

A peça é rica em referências concretas (sarcasmo, ironia, escárnio, indiferença, galhofa, adulação, desprezo, irritação – relacionadas com os opressores; tristeza, esperança, medo, desânimo – relacionadas com os oprimidos). As marcações são abundantes: tons de voz, movimentos, posições, cenários, gestos, vestuário, sons (tambores, silêncio, voz que fala antes de entrar no palco, sino que toca a rebate, murmúrio de vozes, toque duma campainha) e efeitos de luz (contraste entre a escuridão e a luz; os dois actos terminam em sombra). De realçar que a peça termina ao som de fanfarra (“Ouve-se ao longe uma fanfarronada que vai num crescendo de intensidade até cair o pano.”) em oposição à luz (“Desaparece o clarão da fogueira.”); no entanto, a escuridão não é total, porque “felizmente há luar”.

Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Reflexão

Reflexões

No conjunto de personagens agrupadas na esfera do poder e do anti poder, sobressai Matilde, que é, sem dúvida, "a figura mais dramaticamente elaborada de toda a peça".
Na verdade, Matilde, que apenas aparece em cena no segundo acto, surge-nos, inicialmente, como a mulher de um prisioneiro, disposta a tudo, inclusive abdicar dos ideais que levaram o general à prisão, para salvar o seu homem. No entanto, à medida que a acção dramática avança, Matilde aparece-nos como uma mulher dividida entre os seus humanos anseios (salvar Gomes Freire) e a convicção de que salvar o general, sacrificando a liberdade, não faz sentido. Assim, Matilde vai crescendo e quase que substitui o general enquanto símbolo da luta pela dignidade e liberdade. Matilde, contudo, nunca abdica da sua faceta de mulher apaixonada, advindo dai a sua complexidade enquanto personagem, uma vez que a vemos, simultaneamente, como amante e mártir da liberdade.
Essa complexidade atinge o seu auge no momento final da peça, quando Matilde mergulha num estado de alucinação, entrando em dialogo com o general, num momento em que as fogueiras ja iluminam o céu de Lisboa e o martírio de Gomes Freire é irreversível. 

Felizmente Há Luar, texto emblemático do teatro português dos anos 60, desenvolve um conjunto de temas (opressão, luta pela liberdade, amor) que constitui um todo indissociável. No entanto, se tiver que optar pelo tema fundamental, parece-me que a denúncia da opressão se apresenta como núcleo principal.
Com efeito, toda a trama dramática de Felizmente Há Luar!, desde o conluio entre os três representantes do poder (Beresford, D. Miguel e Principal Sousa) no sentido de construírem um "culpado" de uma hipotética sublevação militar e popular, até à corajosa atitude de Matilde, apoiada em Sousa Falcão, para libertar o seu homem e denunciar a hipocrisia dos "Reis do Rossio", se estrutura em torno do tema da opressão
Para além da história da condenação de Gomes Freire de Andrade, é importante, também ter-se consciência de que a verdadeira opressão que se quer denunciar é a que se vivia no Portugal dos anos , debaixo da ditadura Salazarista.

Concluindo, poder-se-á afirmar que Felizmente Há Luar se constitui como uma espécie de hino a todos os residentes e a todos aqueles que lutaram pelo fim da opressão e pela restituição da liberdade ao povo português.

Luís de Sttau Monteiro começou a tomar contacto com movimentos de vanguarda da literatura europeia. A influencia de Brecht é nítida na peça Felizmente Há Luar!, onde, através de um efeito de distanciação, o leitor/espectador toma contacto com uma realidade histórica vivenciada no primeiro quartel do século XIX (lutas liberais), para reflectir criticamente, e compara-la com o momento presente (século XX).

A década de 60, regida pela ditadura de Salazar, não permitia uma liberdade de expressão, o que fez com que os escritores opositores ao regime arranjassem subterfúgios para fugirem à censura. A "máscara", como refere Luís Francisco Rebello, usada por Sttau Monteiro, foi "mergulhar" no passado para fornecer o exemplo, levando à reflexão crítica.
Verificamos um forte paralelismo entre a época representada (1817) e a época de escrita (1961). Deste modo, surgem-nos dois tempos que se aproximam pela presença de poderes ditatoriais (o absolutismo e o Salazarista/fascista); pela falta de liberdade e pela luta por essa liberdade; pela repressão da polícia política; pela esperança na liberdade, liderada por dois generais (Gomes Freire de Andrade e Humberto Delgado) que tiveram um destino semelhante (assassinados); pela ligação do poder à Igreja; pela justiça que se encontrava vendida ao poder. Para tal, o dramaturgo serviu-se de personagens-tipo para representarem antagonicamente os grupos dos opressores e oprimidos.

Felizmente Há Luar! é um tipo de teatro que designa chamar-se teatro moderno, épico ou não aristotélico por oposição ao teatro clássico.
O teatro clássico tinha como objectivo despertar emoções no espectador, levando-o a sentir terror ou piedade face ao que se desenrola em cena/arrastamento emocional.
Contrariamente, o teatro épico tem como objectivo levar o espectador a pensar e a reflectir sobre o que se passa em cena, de modo a que possa fazer uma análise crítica dos acontecimentos. Também em oposição ao teatro, o épico pretende provar que a complexidade da condição humana e os problemas sociais não depende do destino, mas sim de causas sociais, económicas, políticas e históricas. Nesta perspectiva, cabe ao espectador perceber que é possível combater essas forças e superar as desgraças humana que não são eternas e o combate é de igual para igual.

Valor da Liberdade - É importante referir que o 25 de Abril de 1974 trouxe alterações profundas em termos político-sociais e a liberdade foi um bem adquirido que permite a livre expressão do pensamento, os direitos do homem são uma realidade respeitada e tida em conta, ninguém é condenado sem ser julgado e as forças da ordem têm uma função de prevenção pedagógica, a comunicação social e os escritores não estão sujeitos à censura e, de um modo geral, o ser humano é tratado de forma nobre e digna, quase nunca esquecendo os direitos da Declaração Universal.

Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Caracterização das personagens

Gomes Freire - Homem instruído, letrado ("um estrangeirado"), um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. 
A sua morte, duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado, quando a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe (16.000$00 anuais, uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder. 

Matilde de Sousa - companheira de todas as horas de Gomes Freire, é ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. A suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e uma verdadeira coragem na análise que faz de toda a teia que envolve a prisão e condenação de Gomes Freire. 
No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o carácter épico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris (símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Estes momentos finais, pelo carácter surreal que transmitem, são também a denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência dos homens conduzem.

Sousa Falcão - É o amigo de todas as horas, é o amigo fiel em quem se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes, não actuou de forma consentânea com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à acção.

Vicente, o traidor - Elemento do povo, trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua ascensão político-social. Apesar da repulsa/antipatia que as atitudes de Vicente possam provocar ao público/leitor, o que é facto é que não se lhe pode negar nem lucidez nem acuidade na análise que faz da sua situação de origem e da força corruptora do poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque nos faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más consciências adormecidas.

Manuel e Rita - Símbolos do povo oprimido e esmagado, têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. Vêem em Gomes Freire uma espécie de Messias e daí, talvez, a sua agressividade em relação a Matilde, após a prisão do general, quando ela lhes pede que se revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem. A prisão de Gomes Freire é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava.
Podem também simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de miseráveis face à quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.

Beresford - Personagem cínica e controversa, aparece como alguém que, desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. A sua posição face a toda a trama que envolve Gomes Freire é nitidamente de distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa.

D. Miguel - É o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Principal Sousa - Para além da hipocrisia e da falta de valores éticos que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da primeira em relação à denúncia das verdadeiras injustiças. Nas palavras do Principal Sousa é igualmente possível detectar os fundamentos da política do "orgulhosamente sós" dos anos 60.

Andrade Corvo e Morais Sarmento - São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servirem obscuros "propósitos patrióticos".


Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Resumo

Resumo do Acto I:

A peça abre com um monólogo de Manuel (representante da consciência do povo) sobre a situação politica do pais, seguido de um dialogo sobre o mesmo tema em que participam outros elementos do povo. Neste dialogo, o nome do General Gomes Freire de Andrade é invocado sempre de forma positiva, excepto para Vicente. Entretanto chegam 2 policias que dispersam o grupo de populares impedindo alguma conspiração. Vicente fala com os policias e embora pertença ao povo mostra-se disposto a traí-lo para em troca subir na vida. Os 2 policias levam Vicente ao Palácio dos Governadores onde este é recebido por D Miguel e pelo Principal Sousa que lhe pedem para espiar a vida do General em troca de um cargo na chefia da policia. Pedem-lhe ainda que traga uma lista com o nome das pessoas com quem o General se dá.
Sai Vicente e entra Beresford que conversa com D. Miguel e Principal Sousa sobre o clima de conspiração e mostram medo de alguma revolta. Entretanto chegam Morais Sarmento e Andrade Corvo, dois militares que se prestam a ajudar na denuncia. Então são intimados a descobrir o nome do chefe da revolta, a troco de uma boa recompensa.
Vicente, Corvo e Sarmento vão trazendo noticias alarmantes sobre a revolta que se prepara e a determinada altura pronunciam o nome do chefe da revolta: Gomes Freire de Andrade.
O acto I termina com um grande clima de euforia pela prisão e condenação do General.

Resumo do Acto II:

O acto II começa exactamente como o I, ou seja, com o monólogo de Manuel, repetindo as mesmas palavras mas agora mais desiludido e com menos esperança pois Gomes Freire, o libertador do povo, está preso. Também o povo que intervém junto de Manuel se mostra mais revoltado e os policias agem com mais acção, não permitindo ajuntamentos.
Surge então em cena Matilde de Melo, a mulher do General que, num longo monólogo, expressa a sua dor e revolta pela prisão do seu homem. Ninguém a apoia, excepto Sousa Falcão, o amigo de sempre do General. Ambos vão tentar libertá-lo, enfrentando primeiro Beresford que, de forma arrogante, os repudia; depois enfrentam o Principal Sousa que se mostra hipócrita e cínico e não colabora com Matilde. Finalmente pretende ser recebidos por D. Miguel que não aceita conversar com eles. Apenas Frei Diogo, o confessor do General, não teme reconhecer a sua inocência, mas nada consegue fazer contra os governadores.
Por fim, e depois de algum tempo de prisão e tortura o General é condenado à morte por enforcamento, sendo de seguida queimado. Matilde e Sousa Falcão, conscientes de que nada podem fazer, sobem ao alto da Serra de St. António para observarem o clarão da fogueira que há-de queimar o corpo do general. Aí, Matilde, meio alucinada, julga ver o General, aproxima-se dele a sorrir e despede-se.
O acto termina com o apelo de Matilde e os gritos revoltados do povo contra a tirania.

Luis de Sttau Monteiro - Felizmente Há Luar - Síntese

Felizmente há luar! é um texto dramático onde se retrata um tempo histórico que coincide com um período agitado da nossa história - o absolutismo, precisamente antes da revolução liberal. Havia nessa época uma força governativa constituída por uma minoria que explorava o povo fazendo-o permanecer na opressão, na fome e na miséria.
Contudo, este tempo (séc. XIX), é uma espécie de mascara de um outro tempo designado metafórico, que remete para o tempo da escrita (séc. XX), mais concretamente o período da ditadura de Salazar, o Estado Novo em que havia a censura; a PIDE e os seus agentes que acusavam quem não era a favor do regime.

Sttau Monteiro criticou assim de forma muito hábil o período do Estado Absolutista de Salazar aliado á igreja e servido por uma policia desumana.
Em termos paralelos, a execução de Gomes Freire de Andrade em 1817 equivale ao assassinato do General Humberto Delgado em 1965; ambos conhecido como os "Generais sem medo", que punham em perigo as forças do poder; Principal Sousa equivale à igreja hipócrita do séc. XX sempre aliada ao Estado em busca de privilégios e regalias; as forças policias e os delatores da peça representam a PIDE e os seus agentes agiam sempre de forma traidora.

Finalmente o povo, esse é sempre o mesmo, é quem sofre a miséria e a fome, é quem vive em péssimas condições mas não tem forças para lutar pela mudança.

As personagens de Felizmente há luar agrupam-se por sectores:
  1. Forças do poder - D. Miguel Forjaz, Principal Sousa e Beresford;
  2. Forças da Ordem - 1º policia e 2º policia;
  3. Forças Delatoras ou Denunciadoras - Vicente, Morais Sarmento e Andrade Corvo;
  4. Forças da Oposição - General Gomes Freire de Andrade, Matilde de Melo e Antonio de Sousa Falcão;
  5. Forças Populares - Manuel, Rita, uma velha, o antigo soldado e vários populares.