sábado, 2 de junho de 2012

Memorial do Convento - José Saramago - Visão crítica / Ironia


Visão crítica:

A ironia bem como o distanciamento temporal e afectivo do narrador manifestam-se relativamente ao poder de D. João V ou da Inquisição, obrigando a reler criticamente o passado e a corrigir a visão que dele temos da História.
Na realidade, José Saramago não pretendeu relatar a história do convento, mas a dos sonhos e vontades dos homens que para ele contribuíram e que permitiram criar um espaço de evasão e liberdade. Ao falar da construção do convento, contam-se os problemas do rei e da rainha que originaram a edificação do monumento; recorda-se o trabalho pesado dos trabalhadores que o construíram; denuncia-se a vaidade do rei e os excessos da Igreja, a exploração dos mais pobres, a instauração de um clima de terror, a manutenção do povo na ignorância, as injustiças que se cometem em nome do poder.
Parece ser possível afirmar que a edificação do convento de Mafra constitui uma oportunidade para retratar outros assuntos relacionados com a ideologia e as convicções humanizadoras do autor.

É por isso compreensível a forte crítica social que perpassa sempre que se descrevem as personagens com estatuto social elevado e a simpatia e elogio que se denotam quando o narrador se posiciona positivamente face aos socialmente desfavorecidos. O estado da justiça em Portugal também é amplamente criticado, principalmente porque se castigam os pobres e humildes e se despenalizam os crimes que os privilegiados cometem.

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