A reconstituição de acontecimentos e de episódios locais obriga a notações espaciais concretas, onde nem a cor local nem a época podem faltar.
Lisboa e Mafra são os espaços físicos mais referenciados, uma vez que é neles que se movimentam as personagens principais. Todavia, há outras localidades que se destacam: terreiro do paço, Rossio, S. Sebastião da Pedreira (onde decorre a construção da passarola), o alto da Vela (local escolhido para edificar o convento), a “Ilha da Madeira” (onde os trabalhadores usados na construção do convento se alojam) e ainda o Alentejo (apresentado como uma região pobre e perigosa para os transeuntes).
O ambiente da época joanina, das primeiras décadas do século XVIII, aparece retratado nos espaços físicos de Lisboa, Mafra e Alentejo, que se constituem como espaços sociais, uma vez que ilustram hábitos, tradições e costumes da época representada na acção.
É importante referir-se que os locais privilegiados são aqueles onde se dão grandes ajuntamentos populares, destacando-se a bênção da primeira pedra do convento de Mafra, a organização da procissão do Corpo de Deus, o cortejo preparativo das bodas dos príncipes portugueses com espanhóis.
A preferência do narrador pelos locais onde as camadas populares se movimentam justifica-se pelo objectivo de anotar as desigualdades, a exploração ou a crueldade a que estes estavam sujeitos. E não há melhor local para ilustrar as injustiças sociais que a capital, a qual exemplifica um país onde a minoria tem tudo e a maioria nada tem.
De resto, impõem-se a procura, a demanda de um espaço de libertação, um pouco à influencia camoniana do “onde pode acolher-se um fraco humano” (Os Lusíadas, X-106), um espaço alternativo capaz de corresponder à força humana feita de vontade, de espírito, de alma que deixa a sua marca na Terra - neste sentido, veja-se o fecho do romance.
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